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ESG como métrica integrante na remuneração executiva: avanço ou reavaliação?

Escrito por Wil Ferreira | Sep 1, 2025 10:12:55 PM

A preocupação com a sustentabilidade já vem ganhando força no mercado financeiro há algum tempo — tema esse, discutido em diferentes esferas globais ao longo dos anos.

Nas últimas décadas, um termo em particular passou a ocupar posição central nas discussões do mundo corporativo: ESG, sigla em inglês para Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança), que reúne as três principais áreas de atenção das empresas ao buscar reduzir impactos ambientais, promover um mundo mais justo e responsável e adotar as melhores práticas de governança.

Neste artigo, vamos entender melhor o termo ESG e esclarecer quais métricas estão sendo incorporadas pelas empresas que buscam integrar o compromisso com o desempenho ambiental, social e de governança em seus planos de incentivos executivos 

Além disso, vamos responder à principal dúvida sobre essas novas práticas: trata-se de um avanço na remuneração executiva ou de uma reavaliação? 

O que é o conceito de ESG?

O termo foi citado pela primeira vez, em um relatório de 2004 da Organização das Nações Unidas (ONU) intitulado Who Cares Wins (em tradução livre: “Ganha quem se importa”). A sigla une três pilares básicos falados anteriormente, que reforçam algumas principais métricas que empresas devem ter:

E - Environmental ou Ambiental

No pilar ambiental, o foco está nas práticas e princípios adotados pela empresa para a conservação do meio ambiente. São utilizadas métricas que permitem medir a sustentabilidade da empresa e o impacto de suas atividades na natureza, por meio de indicadores específicos de avaliação: 

  • Consumo de água; 
  • Uso de recursos naturais; 
  • Gestão de resíduos; 
  • Emissão de gases poluentes; 
  • Eficiência energética. 

S – Social

Já no aspecto social, a atenção se volta à forma como a empresa gerencia suas relações com as pessoas do seu entorno — incluindo funcionários, clientes, fornecedores e a comunidade onde atua.  

Indicadores específicos podem ser utilizados para avaliar a efetividade dessas práticas e o engajamento das partes interessadas: 

  • Aderência aos direitos trabalhistas; 
  • Valorização da saúde e segurança no ambiente de trabalho; 
  • Apoio à diversidade e inclusão; 
  • Posicionamento da empresa em causas e projetos sociais; 
  • Atuação com a comunidade. 

G - Governance ou Governança

Por fim, a governança analisa como a empresa gerencia seus processos internos, com foco na transparência, na ética, na administração eficiente e na clareza financeira.  

Métricas adequadas permitem avaliar a consistência desses processos e a qualidade da gestão corporativa: 

  • Práticas anticorrupção; 
  • Gestão de riscos; 
  • Transparência financeira; 
  • Relatórios de finanças; 
  • Direitos dos acionistas; 
  • Estrutura e diversidade de conselhos. 

Qual as vantagens na adoção das práticas de ESG?

As boas práticas de sustentabilidade já são uma tendência no ambiente de negócios, mas além disso, elas também se tornaram fatores de competitividade em geral. Consumidores estão cada vez mais conscientes e dispostos a pagar mais por produtos e serviços sustentáveis 

E empresas com gestão estratégica baseada em critérios ambientais, sociais e de governança, estão atraindo e retendo clientes e profissionais que valorizam a sustentabilidade. 
 
Nota-se, excelentes oportunidades, para agregar valor a produtos e serviços, visto que se tornam mais atraentes para esse determinado público. 
 
Cada vez mais, o mercado internacional, programas governamentais e instituições financeiras estabelecem como requisito certificações e selos socioambientais para concessão de crédito, acesso a linhas de financiamento ou participação em iniciativas estratégicas. Assim, organizações que investem em práticas ambientais, sociais e de governança não apenas fortalecem sua reputação, mas também conquistam vantagens concretas em expansão de mercado e captação de recursos. 
 
Isso não se limita apenas a grandes empresas de capital aberto, no Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria de 2022, foi discutido como pequenos negócios podem inovar para aproveitar essa tendência e aproveitar as oportunidades do mercado.  
 
O mundo está mudando e as empresas que não tiverem a consciência deste momento não terão espaço no mercado, pois a própria sociedade tem demonstrado que prefere negócios que aplicam ESG. Se uma pequena empresa quer crescer, ela terá que se adaptar também”, avaliou o CEO da startup mineira Vertown, Guiarruda.

Como as empresas estão adotando métricas ESG e o impacto delas na remuneração executiva?

De acordo com uma  análise feita pela Harvard Law School Forum on Corporate Governance, a respeito de uma pesquisa completa da Conference Board e a ESGAUGE, sobre planos de incentivo executivo descritos nas declarações de procuração de 2023.

Mais empresas estão integrando métricas de desempenho ESG aos planos de incentivo para seus CEOs e executivos seniores.

Cerca de 75,8% das empresas do S&P 500, (índice que engloba as 500 maiores empresas de capital aberto dos Estados Unidos) já utilizam dessas métricas de desempenho, em comparação com 66,5% em 2021 — ou seja, três quartos dessas empresas, o que consolida a ideia de que essa prática está profundamente enraizada. 
 
E conforme o crescimento na adoção de indicadores de sustentabilidade corporativa, as empresas passaram a incorporá-las também em seus planos de incentivos de longo prazo, como stock options e recompensas baseadas em desempenho estratégico.  O impacto dessas métricas na remuneração executiva é direto. Estudos indicam que 10% a 25% do bônus total de executivos seniores pode estar condicionado ao cumprimento de metas ESG, promovendo alinhamento entre desempenho corporativo sustentável e recompensa individual. 

No entanto, desafios persistem. Métricas subjetivas, falta de padronização e risco de “greenwashing” (Greenwashing é a prática em que empresas transmitem uma imagem de sustentabilidade maior do que realmente possuem, usando declarações vagas ou enganosas para atrair consumidores) podem comprometer a efetividade da remuneração vinculada a ESG.  

Por isso, o desenho cuidadoso dessas métricas é fundamental para garantir que incentivos realmente promovam comportamentos sustentáveis e alinhados aos objetivos de longo prazo da empresa. 

Tendências e desafios globais 

- Crescimento internacional: mercados europeus e norte-americanos mostram adoção crescente de métricas ESG em remuneração executiva, refletindo pressão de investidores institucionais e reguladores. 

- Padronização de métricas: a falta de padrões consistentes dificulta comparações e auditorias, exigindo que empresas definam indicadores claros e mensuráveis. 

- Equilíbrio entre financeiro e ESG: a integração deve garantir que incentivos não sejam apenas reputacionais, mas também reforcem a sustentabilidade financeira e operacional da empresa. 

No Brasil, a tendência é crescente, especialmente entre empresas de capital aberto e setores regulados, que buscam alinhar estratégias de sustentabilidade com acesso a capital e participação em cadeias globais.

Avanço ou reavaliação? 

A integração da agenda socioambiental e de governança na remuneração executiva representa um avanço estratégico, pois alinha incentivos de líderes corporativos às demandas da sociedade e dos investidores. 

Entretanto, a prática ainda exige reavaliação constante: padronizar métricas, garantir objetividade e evitar distorções são etapas cruciais para transformar intenção em resultado mensurável. 

ESG na remuneração executiva não é moda passageira, mas um mecanismo em evolução. Seu sucesso dependerá da capacidade das empresas de transformar métricas em impacto real, equilibrando retorno financeiro e responsabilidade socioambiental.